Mais uma Janela de Oportunidade

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Durante o último ano muitos especialistas alertaram para o facto de a pandemia ter estimulado tendências no mercado de trabalho, que já tinham sido referenciadas e detetadas como resultado da introdução de tenologias nos processos de produção. O ritmo foi acelerado e, agora, as alterações parecem irreversíveis. A adoção de novos comportamentos, quer por consumidores quer por empresas, que responderam às circunstâncias da pandemia, parecem permanecer. Como consequência o impacto trará novas relações e novas regras de contratação no mercado de trabalho, para além do desaparecimento e aparecimento de profissões. Novos modelos de trabalho foram procurados para dar resposta a um ambiente de crise e foi necessário assegurar a saúde dos trabalhadores, a manutenção dos postos de trabalho e a continuidade dos negócios, sobretudo os esforços foram orientados para manter a atividade das empresas. Foram medidas urgentes, que tinham o intuito de responder no curto-prazo, mas, de facto, os efeitos serão mais perenes do que suponha. Em simultâneo detetam-se novos desafios, para as empresas e para os seus colaboradores, determinados por uma necessidade incremental de competências, pela flexibilidade, pela alteração da tipologia dos negócios, mas também por alterações determinadas pela clivagem geracional.

Requalificar a mão de obra é inevitável e crucial. As politicas públicas têm que responder a esta necessidade e as empresas não podem desaproveitar os programas de atualização de competências e desenvolvimentos de novas capacidades, porque só desta forma terão equipas com a adequada formação.  É um objetivo nacional porque estamos a tratar do futuro da força de trabalho do país e criar condições para a transição entre ocupações.

O trabalho remoto é exemplo do quanto pode ser perturbador o efeito da manutenção de uma medida, que foi utilizada com intensidade, que é reconhecida como uma oportunidade para as empresas e que veio alterar o perfil de postos de trabalho e potencia competências de trabalhadores. O teletrabalho veio enriquecer a diversidade de profissões e potenciar talentos, bem como obrigou a alterar processos tradicionais de gestão de recursos humanos, onde a gestão do relacionamento das equipas adquiriu importância e trás uma nova preocupação na gestão de carreiras.

Em resultado da experiencia intensiva do trabalho remoto, são muitas as empresas que estão a reformular os espaços de trabalho, e, em muitos casos, iniciam processos de deslocalização, criaram novas soluções, o que determina alterações substanciais na gestão de espaços físicos e gestão de horários de trabalho. A implantação de espaços fora das áreas tradicionais, fora dos centros das cidades, determinará uma diminuição da concentração trabalhadores, de potenciais consumidores, o que pode constituir uma ameaça para muitas das cidades e, em simultâneo, uma oportunidade para muitas outras. Enquanto ameaça, teremos que considerar que é expectável uma diminuição de cerca de 30% de área de escritórios, o que se traduzirá numa diminuição da atividade económica nos centros das cidades, que afetará um conjunto de negócios organizados em função da concentração de pessoas, que se deslocavam diariamente e consumiam no centro das cidades, bem como impõe novos pressupostos no mercado imobiliário.

Como efeitos diretos, estudos têm demonstrado, uma diminuição da atividade comercial e de serviços, queda da restauração e da utilização de transportes públicos, o que pode descaracterizar alguns centros de grandes cidades europeias. Contudo, surgem novas oportunidades para outros centros urbanos, para as periferias e para cidades que afirmem um acolhimento com qualidade, capazes de satisfazerem as necessidades das empresas e dos trabalhadores.

Neste novo conceito de gestão de espaços físicos e localização, que funcionará como um gerador de tráfego e criação de novas centralidades em espaços urbanos e em cidades médias, a acessibilidade, e a fiabilidade operacional das estruturas de suporte de comunicação, mostram-se como cruciais para acolher centros de produção e fazem parte dos pressupostos da procura de novos espaços. Porém, os trabalhadores mostram ter preferências por um conjunto de características que se pode resumir como qualidade de vida e que são determinantes para considerarem a deslocalização temporária ou permanente. O que pode constituir uma janela de oportunidade para cidades da Região Centro.

José Couto | Presidente do CEC

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