Eugoritmo da liberdade (?) – Opinião – António Carraco dos Reis

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Texto de Opinião

António Carraco dos Reis

Eugoritmo da liberdade (?)

Enquanto escrevo este farrapo de opinião, que julgo ser minha, os meus dedos e os meus olhos estão ocupados de forma semelhante ao “eu” que o lê – quem lê este texto, ainda que silenciosamente, escutando uma voz interior que junta desinteressantes caracteres em busca de um sentido: esse “eu” (já cá voltamos).

Nas ruas e comércios, mas também nas páginas e perfis, deparamo-nos diariamente com pessoas mais ou menos descontentes, preocupadas com um sentimento qualquer de autocumprimento, autoconhecimento XXI e de se livrar daquilo que os outros pensam ou querem, ou não querem e não pensam, para, desta forma, elas poderem ser livremente elas próprias (em cada um dos “eus” que em cada uma habita).

Esse rebuliço de curvas apertadas nos destinos de cada um para não esbarrar num caminho que não é o “seu” é uma luta frenética contra os outros – como se eles existissem… – para a salvação da identidade(?).

Vamos concordar nisto: vamos vendo na nossa sociedade uma tendência galopante de valorização da “uniqueness”. Concordamos também, talvez, nisto: o “outro” tem cada vez mais influência (e facilidade em ser influente) no traçar da forma de ser ou estar de cada um de nós (eus): seja pela nossa imitação ou pela fuga à semelhança.

Não estou certo que o “outro” exista, muito menos a fronteira entre ele e eu. Estou, apesar disso, convicto de que se precisam mutuamente, tanto quanto esta reflexão é irrelevante.

Antes que a voz interior que lê este texto deixe de o ter para ler, desenho apenas um abraço forte entre o eu que talvez me pertença e o eu que o é nessa voz interior. A duração do abraço não discuto, para já, porque puxar o tempo para isto iria baralhar mais as coisas. Até para o mês que vem, se Deus quiser (?).

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