Como disse McLuhan “o meio é a mensagem” e a mensagem, em período eleitoral, torna-se massagem. E de tão habituados que estamos a isso, nem damos por isso. Mas convém estarmos atentos, pois os maus governantes só o são se os eleitores não forem exigentes. Bem entendido, essa exigência deve passar pela fiscalização das promessas eleitorais. Considero que as eleições autárquicas são importantíssimas pela proximidade dos candidatos aos eleitores. Mas, como se sabe, temos os eleitores que temos, não os que gostaríamos de ter. E os candidatos conhecem bem os seus potenciais eleitores e as promessas eleitorais são feitas à sua medida.
E os eleitores, votam nos candidatos ou no Partido que os apoia? A julgar pelos dados do Inquérito Social Europeu, os portugueses são os europeus que mais dizem que não se interessam por política (38%). Mas, se o desinteresse pela política é um sintoma preocupante, as dificuldades em perceber a política, não o é menos, pois em concreto pode traduzir-se em tomadas decisão pouco informadas, de que é exemplo o acto de votar. Na resposta à questão: “De uma forma geral, qual o grau de dificuldade que sente em tomar uma posição acerca de questões políticas?”. Portugal regista a percentagem mais elevada dos que dizem que têm dificuldade em tomar uma posição política (52%).
Ora, as campanhas eleitorais têm como principal finalidade, como se sabe, convencer os indecisos. O anátema de que os candidatos mentem todos e, quando estão no poder não cumprem as promessas que fizeram, decorre da “impossibilidade” de o fazerem. Mente-se mais quando os eleitores querem que lhe mintam e em tempos de campanha eleitoral, em que os candidatos não hesitam em prometer tudo e mais um par de botas para serem eleitos pois, como disse George Orwell “A linguagem política, destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável”.
Convém assim lembrar o que disse João Almeida, na qualidade de deputado do CDS, num programa “Prós e Contras” em outubro de 2013, que culpou os eleitores pelo facto dos partidos que ganham eleições mentirem durante a campanha eleitoral. Como disse: se os partidos dissessem a verdade aos eleitores, e afirmassem que iriam cortar salários e pensões de reforma e aumentar os impostos perderiam as eleições. Assim sendo, concluiu o seu raciocínio dizendo “os eleitores obrigam-nos a mentir”. Dois meses depois desta afirmação, foi nomeado secretário de Estado da Administração Interna no governo presidido por Passos Coelho.
Bismark, conhecido como o chanceler de ferro, que governou a Alemanha em finais do século XIX dizia que “A política é a arte do possível”. Não posso estar mais em desacordo pois, se assim fosse, bastaria eleger o Ministro das Finanças. A verdadeira política não se pode circunscrever ao possível e deve almejar o impossível. A distinção entre a política como “arte do possível” ou como “arte do impossível” é a mesma que existe entre políticos e estadistas. Os primeiros limitam-se a cumprir o mandato, os segundos mudam a história.
Os portugueses não se interessam por política, têm dificuldade em descodificar o discurso político e em tomarem decisões políticas. E votam! Como votam? É um mistério. E é bom lembrar que um eleitor desinformado com um voto na mão, pode ser mais perigoso do que um atirador experimentado com uma arma na mão. No próximo dia 26 de Setembro os portugueses voltam às urnas para elegerem, não políticos desconhecidos que povoam os corredores do poder em Lisboa, mas candidatos locais que deviam conhecer bem. Se já foram eleitos em eleições anteriores, é bom que façam uma lista do que prometeram em campanha e do que cumpriram. Votar é, deve ser, um acto de cidadania responsável. Em eleições autárquicas, ainda mais, pois o voto não deve ser no partido com que simpatizam, mas na lista que lhes mereça mais confiança. A Ciência política mostra que os eleitores que se consideram de esquerda são os que mais usam o voto de protesto quando estão insatisfeitos com a governação que cessa. Era bom que pensássemos nisto quando fossemos votar, pois o voto DEVE SER A ARMA DO POVO.
Rui Brites | Sociólogo e Docente Universitário