O presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) alertou, esta quarta-feira, que o país vai passar por uma terceira onda de calor a partir do dia 20 de agosto (sábado) e que se mantém o perigo de incêndios rurais.
“O perigo de incêndio rural em Portugal está ainda a meio da campanha, passámos uma onda de calor de grande intensidade e que chegou a temperaturas que quase rondaram os cinquenta graus, passamos uma segunda onda com menos intensidade, mas mesmo assim com grande impacto e vamos passar uma terceira onda de calor provavelmente dentro de dias”, afirmou o presidente do IPMA, Jorge Miguel Miranda.
O presidente do IPMA falava aos jornalistas em Lisboa após uma reunião com o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, para avaliar as previsões meteorológicas para os próximos dias.
Jorge Miguel Miranda acrescentou que “as previsões não são muito positivas” em termos de precipitação e que provavelmente setembro será “um pouco mais seco e um pouco mais quente, como têm sido os meses anteriores”.
“O problema do perigo de incêndio rural está ainda a meio da campanha”, alertou, referindo mais à frente que a terceira onda de calor deverá fazer sentir-se a partir do dia 20.
“Estamos a chegar a meio de agosto. Passámos Julho e metade de agosto, mas falta metade de agosto, falta setembro e não sabemos quantos dias de outubro. As previsões não são muito positivas do ponto de vista da precipitação”, disse o responsável, acrescentando: “A situação na Europa ainda será talvez pior do que a média em Portugal, mas temos um sistema natural que está tremendamente fragilizado e temos ainda um mês e meio, pelo menos, pela frente para sermos capazes de ultrapassar”.
Jorge Miguel Miranda transmitiu ainda aos cidadãos a mensagem de que “o esforço feito até agora foi importante”, não resolveu todos os problemas porque “não é possível resolver todos os problemas”, mas “o esforço tem de continuar, cada vez de forma mais rigorosa”.
Disse ainda que, depois do que tem acontecido na Europa do Norte, em França, Espanha e em Portugal, é possível perceber que “a mudança climática é o factor determinante” e que aparece sob duas formas “que se pioram uma a outra”: seca prolongada – “estamos numa situação de seca histórica” – e fenómenos de onda de calor e de “onda de vento”. “Isto leva a que as situações sejam tremendamente difíceis de controlar”, afirmou.
À saída da reunião, o ministro da Administração Interna deixou uma palavra de solidariedade para com todos os que têm estado a combater os fogos e para com as comunidades que têm sido fustigadas pelos incêndios e alertou que o país vai entrar “numa onda de calor a partir do dia 20, que se vai prolongar por setembro”.
“Em setembro vamos ter, em regra, tempo mais quente do que os setembros anteriores, entre 50 a 60 por cento, e mais seco entre 40 a 50 por cento. Isto diz tudo dos riscos acrescidos que vamos ter ainda de enfrentar. Quando há dias disse que não podemos baixar a guarda era a este quadro que me estava a referir”, sublinhou o governante.
José Luís Carneiro disse ainda que, no quadro da Proteção Civil, as autoridades vão ter de “reunir de novo todas as forças e serviços”: “Foi, aliás, uma das decisões que tomámos. Têm estado a reunir regularmente, mas em núcleo, que tem que ver com a decisão operacional, para fazer face aos incêndios. Mas vamos ter que olhar para todo este dispositivo que está preparado”, prosseguiu.
No que se refere ao combate ao incêndio na Serra da Estrela, José Luís Carneiro frisou que todos os meios disponíveis têm estado no terreno: “Efetivamente, na Serra da Estrela, estão reunidas todas as variáveis de maior complexidade”, nomeadamente quanto às temperaturas, à orografia e ao vento.
O governante pediu depois ao presidente do IPMA que explicasse as variáveis que davam a este incêndio características especiais: “Existem fogos que são praticamente não combatíveis. (…) A Serra da Estrela é a zona mais montanhosa que temos (…), mas existem mais zonas do país com as mesmas características. Toda a zona do Centro Norte tem estado com índices de perigo de incêndio muito elevados desde o princípio da estação. (…) Cada incêndio é um incêndio. A ciência tenta sempre desenvolver meios para saber como vai prolongar-se e como pode ser combatido, (…) mas tenhamos todos sentido das proporções”, explicou Jorge Miguel Miranda.
O responsável acrescentou ainda que o país “é frágil perante o desenvolvimento de um incêndio rural, em particular de grandes dimensões e todos os meios são finitos e as pessoas finitas na sua capacidade de atuação”: “Ou nós temos uma capacidade de solidariedade entre organizações, pessoas e entre aldeias e vilas que permita que sejamos capazes de passar o período que se avizinha ou vamos ter situações que poderão ser de maior complexidade do que as que tivemos até agora”. “Estamos a viver um momento muito complicado da história climática da terra”, insistiu.