Texto de Opinião
Rui Duque
Figueira da Foz da saudade!
A cidade que se ufanava da sua vida social e glamour perdeu-se no final da primeira metade do século XX. As décadas seguintes, até à revolução de 74, foram de tentativa de encontrar uma alternativa ao sol do algarve e ao mar da sardinha de Matosinhos. Obras da barra para permitir o escoamento da matéria prima da Celulose destruíram a Praia da Claridade. O Turismo da raia espanhola encontrou outros locais de férias e o Jogo, que tantas fortunas desbaratara, entrou em declínio.
Os Figueirenses, os poucos que ficaram e os muitos que adotaram esta terra de mar, serra e rio, tornaram-se resignados que se aquietam ou inconformados desiludidos.
Desde há muito que a Figueira perdeu o brilho, tornando-se um conjunto de peças de um puzzle que não encaixa.
O planeamento urbano caiu redondamente, perante a onda imobiliária sem referência e qualidade, pressionada pela construção e aquisição de casas de crédito bancário.
O mercado de arrendamento, fruto de leis protecionistas, mergulhou no obscurantismo e trapaça.
O comércio tradicional definhou com a sucessão de famílias pouco empreendedoras, a criação de novas centralidades comerciais empacotadas, a escassez do dinheiro nativo e o forasteiro que deixou de acostar.
A indústria tornou-se monolítica.
A agricultura e as pescas foram entregues à subsidiodependência.
Os filhos da terra foram incentivados a estudar e a emigrar. Os que ficaram têm formação superior e empregos inferiores.
A procura do emprego de referência equivale hoje à procura de pão no tempo da grande fome – no racionamento da segunda guerra mundial.
A Figueira contem no seu âmago o Largo da Má Língua e os Primos do socorro.
A Figueira vive da saudade e saudades!