Publicado na edição de Outubro de 2022 da Revista FOZ

Poder da Juventude

1. Partindo da vossa experiência, olhando o horizonte dos últimos 10 anos, como descreve o estado do espírito crítico e interventivo dos jovens em Portugal?

Fazendo um balanço dos últimos 10 anos, é notório algum alheamento jovem face às formas tradicionais de participação e dos partidos políticos, mais do que ideologias os jovens identificam-se cada vez mais com causas, com o agir no imediato para resolver os problemas que os afetam nas suas comunidades e na luta por um mundo melhor e que garanta o seu futuro. 

Tendo em conta os números de participação do movimento associativo juvenil, em cada dez jovens, apenas cerca de dois estão envolvidos numa associação e é necessário perceber o que leva oito em cada dez jovens a estarem excluídos de qualquer movimento associativo, cabe aos agentes políticos não defraudarem as expectativas dos e das jovens, pois, da nossa perceção no terreno, a desilusão com os partidos políticos afasta muitos jovens de movimentos de cidadania. Sentimos que vivemos momentos de bastante ativismo das novas gerações perante causas e valores, como o ambiente, a defesa dos direitos dos animais, a igualdade e não discriminação, entre outros, e é necessário combater a incapacidade dos agentes políticos em perceber e valorizar toda uma geração e as suas motivações, necessidades e objetivos.

Se for o Estado o primeiro a falhar, torna-se difícil continuar a pedir a estes jovens que continuem a confiar e a acreditar na democracia e no sistema e a serem interventivos.

Para desenvolver políticas sustentáveis e voltadas para o futuro é essencial que todos participem e é fulcral envolver e dar voz aos jovens neste processo, contando com os seus conhecimentos, criatividade e ousadia, sendo estes os protagonistas da sociedade do futuro. 

2. Quais os principais desafios quem têm encontrado na capacitação e motivação da iniciativa juvenil?

Para capacitar e envolver os jovens em formas de participação cidadã é essencial colocar os mesmos no centro dos processos de auscultação, de construção e de execução dos programas e projetos para jovens. Esta tem sido a aposta da FNAJ em todas as sua iniciativas e projetos, colocar os e as jovens como protagonistas e numa verdadeira base de diálogo estruturado com os agentes políticos.

Por outro lado, temos apostado em fortes campanhas de sensibilização e de capacitação das novas gerações, em parceria com escolas e autarquias, pois, um dos principais desafios, é levar a informação aos jovens e permitir que estes conheçam as oportunidades que têm ao seu alcance e possam participar de forma ativa nas suas comunidades e efetivar os seus direitos.

Para as novas gerações o momento é este, as ações devem ser agora e os resultados têm de ser imediatos.

3. Que ferramentas e estratégias têm-se revelado como bem-sucedidas para fomentar e aprimorar a participação cívica dos jovens?

As ferramentas e estratégias bem-sucedidas para fomentar a participação cívica são, sem dúvida, colocar os jovens no centro da reflexão, preparação e implementação das políticas que a eles dizem respeito. 

Num momento de transição a nível global, em que se discutem as políticas que vão definir a Europa e o mundo de amanhã a palavra tem de ser dada às novas gerações, sendo importante reconhecer a interseccionalidade dos jovens e reafirmar a importância de uma abordagem intersetorial das políticas para a juventude.

Assim, a solução para uma maior participação cívica é mais transparência, mais seriedade e mais cooperação entre decisores políticos e jovens, procurando estabelecer um equilibrado diálogo intergeracional e estruturado com todos os eixos da sociedade, ingrediente fundamental num Portugal para todos e todas.

Partindo do princípio que a governança e a participação jovem são pilares da democracia que garantem o envolvimento cívico, unificando uma verdade central: a democracia funciona melhor quando todos e todas participamos, a FNAJ desenvolveu os 25 Objetivos da Juventude Portuguesa, que corporizam um referencial estratégico de políticas traduzidas em ações, resultante de um processo de auscultação nacional, com o fim último de plasmar todas as visões e ideias dos jovens e das jovens portuguesas e das suas associações sobre o seu futuro coletivo, tendo por base documentos de referência nacionais e internacionais, nomeadamente os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Assim, é para a FNAJ inquestionável que as jovens gerações, pela sua ousadia e irreverência, são fundamentais na construção de sociedades democráticas e inclusivas. 

 

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