O presidente do Município da Figueira da Foz interrompeu hoje a sessão de Câmara em protesto contra a atitude de “suspeição” da oposição, em maioria no executivo, que acabou por abandonar a reunião e deixar o órgão sem quórum.
Discutia-se a aquisição do Cabo Mondego, cuja proposta já tinha sido adiada na última sessão, quando Pedro Santana Lopes interrompeu os trabalhos irritado com o tipo de questões levantadas pela líder da vereação socialista, Diana Rodrigues.
No momento da interrupção, o autarca disse que seria sem hora marcada, mas de seguida um dos vereadores informou a oposição de que a suspensão seria de 30 minutos, embora sem sucesso, já que os quatro elementos do PS e um do PSD abandonaram de seguida o edifício dos Paços do Concelho.
“O tipo de questões colocadas passa, na minha opinião, os limites. Há uma série de questões novas, que terá a ver, provavelmente, com as substituições no PS, em que as pessoas não estariam à espera de ter de assumir este tipo de responsabilidades e que as levam a colocar perguntas que não devem ser colocadas numa reunião de Câmara, como, por exemplo, quem redigiu a minuta de um contrato”, disse aos jornalistas Santana Lopes.
O presidente da autarquia figueirense considerou “muito grave” o que se passou com a discussão da aquisição do Cabo Mondego, salientando que “não vai continuar com a proposta se a posição do Partido Socialista for esta”.
“Como se recordam, Carlos Monteiro [ex-presidente da Câmara e vereador socialista] disse várias vezes que o PS apoiava a aquisição do Cabo Mondego e a contração de um empréstimo e agora viram o que se passou, com tantas perguntas e tantas dúvidas”.
Salientando que à sessão foi o “acordado entre quem quer vender e quem quer comprar”, Santana Lopes reiterou que quando “as perguntas parecem traduzir determinado tipo de suspeição, que não se compreende, acho que se atinge um nível que, pessoalmente, não se admite, porque algo que tenha a ver com honestidade pessoal e de procedimentos está fora dos limites admissível para qualquer reunião”.
“Não consigo compreender [o abandono da oposição] e a atitude fala por si quanto ao respeito pelo município”, disse o autarca, esperançado que a reunião de Câmara “retome a sua normalidade e que as pessoas tratem dos assuntos”.
Em declarações aos jornalistas, a vereadora Diana Rodrigues disse que os eleitos do PS olham para a aquisição do Cabo Mondego “com toda a responsabilidade que o exercício autárquico exige, já que se está a falar de um compromisso financeiro na ordem dos dois milhões de euros”.
“E sentimos que temos de obrigação de esclarecer todas as dúvidas. É um processo complexo, que, em termos de ordenamento do território, congrega uma série de restrições e condicionantes, pelo que temos várias questões do ponto de vista também administrativo que são legítimas”, sublinhou.
Para a autarca, que se manifestou a favor da aquisição, por ser um ponto “absolutamente estratégico” para o município, “é saudável que a oposição coloque questões, esclareça, até para que os próprios munícipes percebam exatamente o que se está a tratar”.
Segundo Diana Rodrigues, o PS não “tem nada a opor [à aquisição], pelo contrário, tem de ser é de uma forma que seja mais vantajosa, mais transparente e clara possível e que salvaguarde o interesse do município em toda a linha, essa é a única preocupação” do partido.
“Não estamos a pôr em causa nada nem ninguém, nem a fazer nenhum tipo de juízo de valor quando questionamos”, frisou a vereadora, que considerou incompreensível a “atitude excessiva do presidente e o que a motivou”.
O único vereador do PSD, Ricardo Silva, salientou que a reunião estava a “decorrer dentro da normalidade democrática” quando o presidente da Câmara suspendeu os trabalhos “de forma agressiva e por tempo indeterminado”, pelo que as explicações pelo episódio cabem a Santana Lopes.
Os assuntos da agenda de hoje que não foram discutidos [a maioria] passam para reunião de 7 de dezembro.