Uma investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (UC) lidera um projeto multidisciplinar que levou até ao espaço biossensores cuja missão é avaliar a saúde dos astronautas e turistas espaciais.
O projeto, denominado Lab-on-paper, “representa o primeiro voo de uma equipa portuguesa no foguetão MASER e abre portas à possibilidade de análise de alguns parâmetros com interesse para a saúde no espaço”, divulgou a UC.
“Esta experiência inédita pretende avaliar o funcionamento de sensores semelhantes às tiras de urina no espaço, onde a gravidade é quase nula”, afirmou a líder do projeto, Akmaral Suleimenova, citada numa nota de imprensa da UC, adiantando que recorreram a sensores de açúcar (glucose) ou de antibióticos (tetraciclina), com base em tecnologias já desenvolvidas pela equipa, em 2014 e 2015.
O lançamento, que ocorreu na quarta-feira, foi acompanhado por Akmaral Suleimenova e João Gabriel Silva, professor catedrático de Engenharia Informática daquela faculdade, para “assegurar em Terra a operacionalidade dos biossensores, da estrutura mecânica desenvolvida para este efeito e da comunicação entre o foguetão e a experiência, encerrados numa caixa própria para esta viagem única”.
“Esta caixa passou, aliás, por múltiplos testes nestes últimos meses, um deles levando Akmaral Suleimenova, Guilherme Ribeiro (Universidade Nova da Lisboa) e João Pedro Coutinho (Instituto Superior de Engenharia do Porto) à Suécia, um mês antes desta partida”.
Segundo a UC, “a experiência foi bem-sucedida do ponto de vista da comunicação com o foguetão e de gravação de imagem prevista, mas nem todos os resultados esperados foram conseguidos”.
Segue-se “uma fase de análise detalhada de todos os dados recolhidos” e, “num segundo lançamento, espera-se conseguir recolher não só os dados que não foram agora obtidos, como alargar o âmbito científico da experiência”.
O Lab-on-paper é financiado pela European Low Gravity Research Association e resulta de uma colaboração que envolve cientistas da Universidade de Coimbra, do Instituto Superior de Engenharia do Porto e da Universidade Nova de Lisboa, provenientes de vários grupos/centros de investigação.
Os investigadores são Akmaral Suleimenova, Goreti Sales, Manuela Frasco, Rita Cardoso, Afonso Sampaio, Ana Carolina Marques, Elvira Fortunato, Guilherme Ribeiro, Rui Igreja e João Gabriel Silva, André Dias e João Pedro Coutinho.
“Como no espaço não há hospitais, são necessárias formas simples de analisar o estado de saúde dos astronautas ou dos turistas espaciais. A recolha de uma amostra de sangue é muito difícil, pois a ausência de gravidade dificulta a transferência de líquidos”, esclareceu o consórcio.
Face a esta situação, “os testes rápidos para saliva ou urina, que mudam de cor, são os mais adequados, uma vez que basta um pouco urina/saliva para se obter um resultado visível a olho nu”, sendo que “até à data nunca foi testada a possibilidade de usar estes sensores no espaço”, mas a equipa está a caminho de conseguir este feito.
O foguetão MASER, onde viajaram os biossensores, foi construído pela Agência Espacial Sueca e testado em lançamentos anteriores. Esta missão MASER-15 corresponde ao terceiro voo da série Suborbital Express, que inclui várias experiências de naturezas muito diversas no mesmo voo, uma delas o Lab-on-paper.
Com 12,6 metros de altura, este foguetão consegue transportar 300 quilogramas até cerca de 260 quilómetros de altitude. “Esta altitude é fundamental para que a qualidade da microgravidade a que ficam sujeitas as experiências seja elevada”, assinalou a UC.
O foguetão foi lançado no centro espacial de Esrange, no norte da Suécia, acrescentou a UC.