Texto de Opinião
António Carraco dos Reis
Amnistia às Bruxas
Escrevi esta reflexão há dois anos. De lá até cá, o bom é que as criancinhas ontem sairam à rua. Mas o resto…:
Em tempo de Halloween, o paganismo e o capitalismo estão em festa. As bruxas absolvidas podem sair à rua na noite de 31 de Outubro, ou podiam…
No velho Estado Novo, tínhamos bufos nos cafés, nas ruas e até em casa. Um regime policiado, assumido, tóxico e castrante de liberdade.
O escândalo, hoje, perdeu o rosto, é certo, mas nem por isso perdeu a força. Se antes existiam informadores do sistema camuflados em muitos lados, hoje temos o próprio sistema camuflado a agir como censura dentro dos medos de cada um de nós.
O seguidismo e o poderio lançaram a rede do politicamente correto, de um novo senso comum acéfalo e apapagaiado.
Quem não alinha no politicamente correto de hoje, profundamente ideológico, é um reacionário, um conspirador, um alvo-a-abater. Já não com as técnicas de tortura do antigamente. Hoje vivemos a anulação individual e a exclusão social como arma do próprio regime, sem necessidade de PIDE ou inquisidores credenciados, mas com o mais perigoso dos vírus em democracia: a desinformação profunda que confunde e distrai o eleitorado.
As bruxas eram pensadoras por conta própria, investigadoras de si mesmas, que, em harmonia com as leis naturais, desenvolviam ferramentas e meios para o progresso da sua liberdade e melhoria da qualidade de vida, sua e dos seus. Essa independência, essa diferença, deu-lhes o bilhete para a solidão discriminadora.
Que as há, há, e há dentro de cada um que busca o seu próprio caminho.
Em plena pandemia, a criançada fantasiada de bruxinhas não poderá sair à rua, assim como as originais, que cada vez menos saem, se veem ou ouvem. A magia da democracia corrente, que procura extinguir as bruxas e manter todos os “santos”.
De Deus às bruxas, a amnistia, já que o homem grande continua a querer “queimá-las”.