Publicado na edição de Outubro de 2022 da Revista FOZ

Associativismo: o poder da cidadania

“Quando nos referimos ao Poder Local pensamos, na generalidade, nas autarquias locais”, refere o investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século 20 (CEIS20) da Universidade de Coimbra, José Bernardo.Todavia, continua, “existem outras formas de manifestação de poder local por parte das populações organizadas com o objetivo de resolver problemas concretos da sua vida”. “O movimento associativo é, pois, uma dessas formas de expressão, de participação e de realização coletiva e individual a nível local”1, conclui. Outros autores e a generalidade dos dirigentes associativos alinham pelo mesmo diapasão.

Augusto Flor, o antropólogo que dirigiu a Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD) nos últimos 20 anos, não tem dúvidas que o movimento associativo popular (MAP) “é um poder no plano quantitativo e qualitativo”. Há números que sustentam a afirmação: 31.000 entidades disseminadas por todo o território, com vida própria, sem qualquer dependência de outros poderes; mais de 425.000 dirigentes associativos voluntários, benévolos e eleitos com “influência na vida das comunidades”. O histórico dirigente destaca ainda o papel do MAP “para o equilíbrio de poderes ao nível local, regional e nacional e para a qualidade da nossa democracia pela via do exercício da democracia participativa”2.

Susana Monteiro, que cumpre o seu terceiro mandato como Presidente da Junta de Freguesia de Ferreira-a-Nova, não tem dúvidas de que o seu percurso associativo foi “uma preparação gigantesca” para o exercício das atuais funções. A autarca, que foi presidente da direção da Sociedade Musical Santanense, considera mesmo que foi na coletividade que aprendeu as noções básicas de “gestão de pessoas, de organização de eventos ou mesmo de comunicação” em público e para o público.

Já o Presidente da Assembleia Municipal da Figueira da Foz, José Duarte Pereira, não hesita em afirmar que se não fossem as coletividades que serviu, “nunca tinha servido a comunidade” como o tem feito até aos dias de hoje. A tomada de conhecimento da realidade local, dos problemas do coletivo, acontece, de forma subtil e quase sempre inconsciente, no seio das associações. Enquanto polos de agregação comunitária, são também fóruns de discussão, espaços para o desenvolvimento do pensamento crítico e o corolário da solidariedade. José Duarte Pereira, que é o atual Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Grupo Instrução e Sport (GIS) lembra o “sacrifício familiar” dos dirigentes, mas sublinha a primazia “de olhar o outro, cuidar do outro, amar o outro”.

Estudos indicam que “os colaboradores e dirigentes das associações apresentam características positivas (solidariedade, confiança e tolerância na relação com os outros), uma forte consciência social e política, respeito pelo convívio intergeracional, um desejo de transformação social e de melhoria da qualidade de vida das comunidades, com elevado nível de satisfação pessoal e profissional”3.

 

1BERNARDO, José (2018), «Caraterização do Associativismo – Figueira da Foz», Município da Figueira da Foz, Figueira da Foz, pág. 13

2«Análise Associativa», n.º 6, fevereiro de 2019, Revista da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD), pág. 74-75

3BRÁS, Olga, FONSECA, Gabriela e SANTOS, Ricardo (2018), «Património Associativo – O Associativismo e o Desenvolvimento Local e Social: Especificidades do Concelho da Figueira da Foz», Associação das Colectividades do Concelho da Figueira da Foz, Figueira da Foz, pág. 86

 

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