O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) confirmou estar a levar a cabo um inquérito interno à funcionária suspeita de colaborar com uma rede criminosa que alegadamente facilitou a entrada ilegal de milhares de imigrantes em Portugal. A colaboradora em causa foi apontada pela Polícia Judiciária (PJ) como “toupeira” da organização, numa operação de grande escala que resultou na detenção de 13 pessoas.
A Inspeção-Geral Diplomática e Consular está a liderar a averiguação interna, em paralelo com a investigação judicial, adiantou ao final do dia uma fonte oficial do Palácio das Necessidades. Embora não tenham sido revelados pormenores adicionais, o caso já agita as estruturas do MNE e levanta questões sobre falhas nos mecanismos de controlo e verificação interna.
De acordo com a PJ, o grupo agora desmantelado operava desde o início de 2022, tendo criado empresas de fachada para dar aparência de legalidade a processos de regularização fraudulentos. Os imigrantes, maioritariamente oriundos do Brasil e do subcontinente indiano, eram recrutados através de redes sociais, sendo-lhes prometida a obtenção de documentação legal em troca de pagamentos avultados.
O papel da funcionária do MNE era, segundo as autoridades, fulcral para o êxito do esquema. “Infelizmente, tínhamos uma toupeira nesse ministério. O seu envolvimento permitia conferir legitimidade a factos falsos”, declarou Avelino Lima, diretor da Diretoria do Centro da PJ, numa conferência de imprensa.
Entre os serviços oferecidos aos imigrantes encontravam-se a emissão de contratos de trabalho fictícios, obtenção de NIF, NISS e número de utente do SNS, bem como traduções e certificações de registos criminais, aberturas de contas bancárias e declarações de residência, tudo com o intuito de criar uma fachada de legalidade.
No âmbito da operação — batizada de “Gambérria” — foram realizadas 40 buscas em várias localidades, incluindo Coimbra, Espinho, Amadora e Lisboa. As autoridades apreenderam documentação usada nos esquemas, 11 viaturas (algumas de alta cilindrada), cerca de um milhão de euros em numerário, duas presas de elefante em marfim com aproximadamente 50 quilos e um selo branco utilizado para falsificar registos criminais.
O Gabinete de Recuperação de Ativos (Centro) procedeu ainda ao arresto de seis imóveis, ao congelamento de dezenas de contas bancárias, ativos financeiros, incluindo uma conta de criptoativos e produtos ligados a plataformas de apostas.
A rede contava, segundo a PJ, com tarefas bem distribuídas entre os membros, entre os quais sete empresários, uma advogada e a funcionária pública agora sob investigação interna. A estrutura montada permitia até que indivíduos nunca presentes em território português obtivessem documentação legal, com implicações fiscais e de segurança social.
A investigação permanece em curso e, de acordo com fontes policiais, não se exclui a possibilidade de novas detenções nas próximas semanas.