Publicado na edição de setembro de 2022 da Revista FOZ

 

FIGUEIRA DA FOZ, o futuro há 100 anos

Apesar de não ter nascido nesta tão bela e distinta cidade, considero-me quase um figueirense, pois à cidade devo parte da minha formação pessoal e profissional. Sabendo que faz este ano 140 anos que a Figueira da Foz se juntou às demais cidades de Portugal, não podia perder a oportunidade de escrever um pouco sobre a cidade, numa perspetiva do seu desenvolvimento.

Encontrei há tempos em casa de um amigo um pequeno e velho livro intitulado “Figueira da Foz – ante-projecto dos melhoramentos da zona occidental da cidade-1915”.

Nessa altura, ou seja, 33 anos depois da sua elevação a cidade, já havia quem pensasse que era preciso fazer mais e diferente  e, por esse motivo, foi elaborado o anteprojeto para depois ser levado a análise e discussão entre especialistas. Ao ler o preâmbulo do trabalho consegue-se perceber que a cidade estava estagnada e sem energia, perdendo oportunidades aproveitadas por outras regiões do país. O governo de então, estava fortemente empenhado em desenvolver a indústria do turismo.  Era uma nova ideia de progresso e de civilização, abrindo horizontes a iniciativas grandiosas para atrair o turiste e o forasteiro, oferecendo-lhe alguma coisa mais do que o sol e o magnífico clima que se desfrutava, além das belezas naturais, dos sítios pitorescos, das praias e dos belos monumentos do país. Era uma forte aposta, a promoção do conforto e da comodidade para atrair povos de outras regiões, tal como já acontecia nos outros países. Esta visão tinha como objetivo principal potenciar riqueza, com as múltiplas vantagens que dela resultariam para o comércio, a indústria, as artes e a ciência. Era notório o forte apoio do governo, secundando o movimento, patrocinando medidas instantemente reclamadas para esse fim. Nessa altura estava em cima da mesa a regulamentação do jogo, votada pelo Congresso Internacional do Turismo realizado em 1911, em Lisboa. A ideia era criar mais rendimento para ser aplicado nesta nova indústria beneficiando as localidades que compartilhassem das respetivas receitas de tributação, com as quais poderiam realizar melhoramentos importantes. Nessa altura estava em discussão a Lei dos Hotéis, no sentido de facilitar a construção de novos edifícios hoteleiros, abrindo portas a novas culturas e povos e atraindo riqueza para as diferentes regiões. Assim,  constituiu-se a Repartição do Turismo, como elemento de organização e informação, além de se ter instalado a Comissão de Estradas, com a finalidade de se desenvolver as vias de comunicação terrestres. Subsistiam elogios à Sociedade Propaganda de Portugal, pelos esforços desenvolvidos em prol do turismo, através de inúmeras iniciativas desenvolvidas com resultados vantajosos e evidentes.

Como natural consequência da conjugação de todos estes elementos, formaram-se poderosas e importantes empresas, planeando e executando construções tão necessárias para o progresso e desenvolvimento das regiões e do país. Faziam-se elogios à zona do Estoril e de Portimão.

Na continuação da leitura do trabalho é possível ler, “e, entretanto, que faz a Figueira a quem tanto interessa o problema? Nada, absolutamente nada; e assim vae pouco e pouco perdendo a vida, o enthusiasmo, a confiança que sempre teve no próprio esforço, a consciencia do immenso valor que possue. A Figueira mantém-se estacionaria! E, todavia, a opportunidade é manifesta.”

Por este motivo, no mesmo texto, apela-se à ação, apela-se aos decisores para agirem, para decidirem e executarem, pede-se para não prometerem mundos e fundos, sem fundamento e a desproposito. Fala-se mesmo em desleixo e má orientação, deixando, por isso, a Figueira para trás.

Depois deste período, a Figueira da Foz deu o salto qualitativo que se preconizava, viveu o seu auge no turismo, no comércio, na indústria, nas artes e no desporto.

Sobre esse período áureo, hoje pode ler-se “Elevada a vila em 1771 e a cidade em 1882, num período em que a Figueira da Foz se caracterizava por uma sociedade burguesa, impulsionada pela economia num período de reformas nacionais, que marcaram o seu desenvolvimento em diversas vertentes – arquitetura, indústria, lazer – a cidade fervilhava de cultura e modernidade, impulsionada pela aristocracia portuguesa e espanhola. Moderna e cosmopolita, a Figueira da Foz acompanha as tendências europeias a diversos níveis, apostando na criação de excelentes condições de vida, tanto para residentes como para visitantes. Do desporto aos eventos, do património à gastronomia, o território da Figueira da Foz preserva vivências e histórias únicas.”

Volvidos estes anos, voltamos atualmente às críticas de outrora. É fundamental repensar a cidade e a sua região. Tal como naquele tempo, é preciso refletir, é preciso consultar quem sabe e quem conhece para, de uma forma objetiva e sabedora, apresentar um plano, mostrando o que se deve fazer, para aproveitar as oportunidades que vão surgindo. Críticas a uns e a outros não servirão para coisa alguma. Apontar o dedo da vaidade e da sobranceria só serve para animar a comunicação social e os grupos isolados, repletos de gente que muito fala, mas pouco sabe.

Só com sabedoria, união e diplomacia se conseguirá devolver a Figueira da Foz ao palco que já pisou e que tanto nos orgulha, mas que tanta saudade nos deixa.

Mário Velindro

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