Texto de Opinião
Ricardo Costa Santos
ChatGPT: Friend or Foe
Vamos falar de Inteligência Artificial. O conceito de inteligência artificial não é novo na nossa sociedade e o número de fantasias para a forma como as máquinas poderão suplantar e até contribuír para a extinção da espécie humana são múltiplas e variadas (considere, por exemplo, os universos retratados em populares fenómenos culturais como Matrix ou Terminator). No entanto, as formas de inteligência artificial que hoje utilizamos são bem menos sofisticadas e interessantes.
No mundo real (aquele em que habitamos), formas de inteligência artificial são utilizadas para realizar trocas em mercados financeiros, lhe mostrar recomendações de novos produtos a comprar numa loja online ou a forma como o Sr. Google faz a tradução dos seus textos para outra língua. Interessante? Sim. Útil? Sem dúvida. Revolucionário? Nem por isso… Afinal, ao longo dos anos, formas de inteligência artificial têm conseguido tornar-se extremamente bem sucedidas (e em algumas aplicações atingindo performances sobre-humana) a realizar tarefas muito concretas e circunscritas. No entanto, a capacidade de generalizar tarefas, ou seja uma Artificial General Intelligence não vai, modo geral, além do imaginário dos universos de ficção científica.
Desde o seu lançamento em Outubro, a aplicação ChatGPT tem recebido a atenção de investigadores, universidades, empresas e até políticos. Este modelo de linguagem tem demonstrado uma capacidade de criar texto que, até há relativamente pouco tempo, consideraríamos apenas ao alcance de seres humanos. A confiança com que o modelo responde a perguntas desde culinária até programação é tão convincente chega a ser assustador. Por exemplo, professores nos mais variados ramos estão aterrados com a possibilidade de que os seus alunos comecem a fazer batota nas suas monografias. Para os mais distraídos, o ChatGPT quase que parece um ser omnisciente.
Mas não é! Ao final do dia falamos de um modelo de linguagem sem inteligência. ”Tudo” o que estes modelos fazem é prever qual será a próxima palavra que deverá usar tendo por base as palavras e texto que a antecedem. Por outras palavras, o ChatGPT não “conhece” a realidade daquilo que está a dizer nem está preparada, na sua formulação atual, para ter qualquer coisa que se assemelhe a conhecimento. O modelo é sofisticado? Sim. Interessante? Sem dúvida. Revolucionário? Talvez…
A quarta versão do GPT deverá saír em 2023 e, pelas descrições da OpenAI, será treinado com um conjunto de dados muito maior que os seus antecessores. O modelo gerará respostas ainda mais eloquentes e, muito provavelmente, as vulnerabilidades que hoje detetamos nas respostas do ChatGPT deixarão de ser visíveis ou exploráveis. A discussão sobre a senciência do novo modelo regressará por certo, mesmo que seja provavelmente exagerada. A única certeza que temos é que o ritmo de inovação não irá abrandar e o mundo, tal como o conhecemos, será muito provavelmente irreconhecível.