Publicado na edição de setembro de 2022 da Revista Foz

Transcrição adaptada:

Senhores telespectadores este é o Forte de Santa Catarina. E aqui bem na nossa frente vemos a Capela de Santa Catarina que deu origem ao nome do forte. Santa Catarina é advogada dos que andam perdidos sobre as ondas do mar: e rezam a Santa Catarina, que também ela foi navegante. Depois como a capela estava sempre a ser assaltada por mareantes vadios e piratas e flibusteiros, fizeram aqui à volta uma muralha; da muralha fez-se o Forte de Santa Catarina. Deixou de haver corsários e fizeram ali um farol para fazer sinal aos navegantes à noite. Os navios entram e saem porque felizmente a barra está cada vez mais praticável. O mar é que marca a história de toda essa região.

A foz do rio Mondego foi avançando: há três mil anos estava a mais de 20km daqui, num lugar chamado Santa Olaia. Aqui foram encontrados inúmeros objetos fenícios, para os ver vale a pena visitar o Museu Municipal Santos Rocha. Os fenícios vinham aqui buscar um estanho com o qual misturado ao cobre, fabricavam o bronze. E atracavam ali em Santa Olaia porque aquilo ainda era mar. Eles vinham em navios com um certo calado e depois vinham, do interior, as cargas praticamente em jangadas – o Rio era navegável em grande percurso, e até Penacova foi navegável até um tempo relativamente perto denós (era uma má estrada, mas não havia outras). E isso faz da foz do Mondego, fez sempre, uma região riquíssima de civilização. (…)

Através da comparação das vasilhas fenícias que podem ser vistas no Museu, obtém-se uma espantosa lição sobre a colonização desta faixa ocidental da península pelos navegadores vindos da Fenícia. (…)

Estes e outros espólios podem ser encontrados no Museu Santos Rocha. Mas não era justo falar dele sem referir uma figura nossa contemporânea, a Doutora Madalena Perdigão, figueirense. Foi ela quem insistiu com o marido, Doutor Azeredo Perdigão, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, em fazer este belíssimo Museu.

No ano de 1808 Portugal esteve ocupado pelo exército francês, é aquilo a que se chama a primeira invasão francesa. Esse facto foi comemorado, aqui na Figueira da Foz com uma exposição neste Museu…

É muito importante compreender o papel que as marinhas tiveram durante toda a pré-história portuguesa. À medida que o mar ia recuando ficavam vastas zonas de águas marítimas que, evaporadas pelo sol forte, davam sal. Apareceram as grandes salinas da Figueira da Foz. Sugiram grandes estaleiros para fazer lugres e grandes extensões de seca de bacalhau. Era o tempo em que os políticos prometiam bacalhau a pataco.

Aqui também havia marinhas no século XVI e em XVII estavam em grande desenvolvimento. Está-se agora a assistir a uma espécie de reaproveitamento das marinhas com fins museológicos.

O principal monumento histórico da Figueira da Foz é este edifício que se chama Casa do Paço. É um palácio com uma fachada enorme, quem o mandou construir foi um Bispo de Coimbra. Devia ter um torreão em cada lado, mas o segundo nunca foi feito, porque esse Bispo começa as obras em 1690, morre catorze anos depois, em 1704, e isto não era uma obra propriamente religiosa, era uma obra da pessoa, que nessa altura era Bispo. Portanto, quando ele morreu não ficou para a diocese, ficou para os sobrinhos – que não tinham dinheiro para concluir o segundo torreão. O que torna mais enigmático este paço é que as salas são forradas por 12.000 azulejos que não são portugueses. As figuras nos azulejos devem representar uma luta entre cavaleiros cristãos e mouros. Os que têm capacetes metálicos são os únicos que possuem armas de fogo, estão a disparar os seu revolveres sobre os outros; todos os que estão caídos dos cavalos têm turbantes – são cavaleiros

turcos. Admite-se que seria uma carga de azulejos com destino a Malta e que o navio, por algum motivo ficou aqui. São oriundos da Holanda e designados por azulejos de Delft, eram caríssimos e se observarmos com atenção é um desenho finíssimo representando cenas com muito interesse, de inícios de séc. XVIII e fins do séc. XVII.

Uma questão que dá que pensar, é que ideia terá sido a de um Bispo de Coimbra vir fazer um verdadeiro palácio num lugar que, nessa altura, nem aldeia era. É possível que o Sr. Bispo ao estabelecer aqui uma casa muito grande, quisesse ou já tivesse tomado uma posição nos comércios do bacalhau ou do sal. A Figueira da Foz só teve foro de vila em 1772 – quase cem anos depois da construção da Casa do Paço – já nos últimos anos do tempo de Marquês de Pombal.

Esta estátua e túmulo é do estadista Manuel Fernandes Tomás – contém as suas cinzas que foram transladadas há alguns anos por iniciativa da Academia Portuguesa da História. É Manuel Fernandes Tomás quem lidera intelectualmente a grande revolução de 1820- 1822, que a revolução que em Portugal põe termo ao regime semifeudal e que introduz o regime liberal.

Manuel Fernandes Tomás nasceu em 1771 numa casinha que já não existe. Era uma casinha pobre, de uma família pobre, numa rua pobre até que o nome que lhe davam era a Rua dos Tropeções. Na certidão de nascimento de Fernandes Tomás diz-se que o pai era empregado na vida marítima, era um homem que tinha um barco e se dedicava a fazer transporte de sal – um homem muito modesto. O filho, com os parcos meios locais, aprendeu rapidamente e ficou em condições de poder entrar na Universidade. Acaba a formatura em 1791: é o ano da primeira Constituição da República Francesa.

Em Coimbra já ouve falar das ideias novas da Constituição, é protegido do Bispo (Conde de Arganil) que o nomeou Juiz de Fora de Arganil. O rapaz revela-se um juiz excelente, é um homem de uma irredutível honestidade, àquelas mãos pode-se entregar ouro em pó – isso, já nessa altura, era uma exceção em Portugal. É, posteriormente nomeado como o Superintendente das Alfândegas de Aveiro, Coimbra e Leiria.

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